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A República

Atualizado: 9 de nov. de 2020

Logo no primeiro dia não durmo direito. Ouço um estrondo forte na parte de baixo da casa. Abro os olhos, a vista está embaçada e então... Ouço um grito, terrível. Desço as escadas, meu coração, acelerado, quase sai pela boca!

Esta é a cena que eu vejo: Uma das outras moradoras está jogada no chão, de costas, e seus longos cabelos loiros, cheios de...


Sangue.


Subo correndo as escadas, grito, bato em todos os outros quartos. A garota que divide morada comigo está parada à porta, e parece tentar me acalmar – Está tudo bem -- diz --... Xii, xii, pronto... Até que demorou dessa vez.


Olho para ela, está sorrindo. Não entendo. Alguém me entrega uma xícara de chá, eu bebo e logo apago.


Acordo, é dia lá fora. Levanto de um pulo. A casa está silenciosa, bato nos outros quartos, mas por fim, pareço estar só. Respiro e devagar desço as escadas. Nem sinal de nada, nem corpo, nem sangue. Há alguém na cozinha, cantarolando uma música que não conheço, é minha colega de quarto, está de costas, toco em seu ombro, e quando ela vira... Eu grito... Meu Deus! Porque ela tem sangue no avental? Sem importar-se ela sorri e me diz: -- Está tudo bem, querida. Até que demorou dessa vez.


Até que demorou dessa vez? É a segunda vez que alguém fala isso. Não entendo. Estavam esperando por... Isso!


Corro e me tranco no quarto. Não quero que essa outra entre aqui. Tento ligar para minha família, mas meu celular não funciona. Apago uma vez mais...



Acordo de novo, agora já é madrugada, caio na besteira e olho no relógio, 3:15... (Céus, como odeio esse horário) E então (PAM!), um estrondo em minha janela, como um batida. Me cubro, da cabeça aos pés, choro. Fecho os olhos, mais uma batida e um clique, alguém ou alguma coisa, abriu-a. Ouço passos, e uma respiração pesada aos pés de meus ouvidos (expira e inspira)...


Silêncio.


O que vem a seguir arrepia minha pele. Alguém puxa a minha coberta, corro até chegar às escadas e caio. Meu braço dói! Um estalo forte vem junto ao meu desespero... Respiro rápido e ofegante (expira e inspira)... Com esforço me levanto. Tudo está escuro, exceto por uma luz, fraca, que vem da sala de jantar. Vou até lá... Todas as moradoras estão reunidas, uma olha para mim e diz: -- Pelo jeito, agora é com você. Até que demorou dessa vez... Ele te dirá o que deve fazer, afinal todos aqui já eram dele...


Por Deus, estão todos loucos? Eram de quem?


De repente, todas olham para algo que está em minhas costas (Expiro, inspiro, ofego). Devagar, tomo coragem e me viro. Não há nada lá, só o escuro, mas aí eu pisco e o que vejo me arrepia... São olhos, que brilham como os de gato no escuro, só que vermelhos. Uma voz medonha, sai de lábios invisíveis, dizendo: -- Três dias... Não pode desistir ou fugir... Quem vem parar aqui é porque já era meu.


Sinto calafrios, e em uma piscada tudo some.


Corro de volta para o meu quarto, já nem lembro da dor do meu braço. Me fecho novamente ali, mas ao virar o que vejo me dá ainda mais medo. Uma mulher sentada, loira e suja de sangue, sua pele está pálida e o cheiro, arghh... Essa, é a garota que morreu nas escadas, estou chocada. Ela diz: -- É sempre assim, quando mandam alguém novo da universidade para cá, alguém tem de ir embora... Melhor que você não fuja, pois o que está aqui é porque já era dele, viu o que me aconteceu? Foi porque fugi. Escolha uma delas e seja rápida.


Choro muito e por dois dias, parece que apago. Ao acordar, desço as escadas e tento ir até à rua. Lá fora escuro e neblina. Pensando bem, não me lembro de saber o que há lá fora. Não ouço nada, só ruídos... E aí, risadas. Tem alguém aqui fora. Melhor voltar. Alguém liga uma música em uma velha vitrola... Na parte de baixo não ouço ninguém, e então penso: -- Será que irão me matar? – Me tranco de volta ao meu quarto. Lá fico segura... Olho para trás, a doida que mora ali comigo, grita “Você será a próxima”... Pula em mim e lutamos. Sou rápida! A jogo para o lado, abro a porta, todas as outras observam, paradas às portas dos seus respectivos quartos, percebo então, ninguém mais tem uma colega de quarto, apenas eu... Isso quer dizer alguma coisa.


Ou ela ou eu!


A outra se levanta e berra – AAAAHHH! – A jogo mais uma vez no chão, sou mais forte que ela, as outras assistem e esperam.


Piso na mão da garota, e então com ela ainda no chão, sinto que algo toma conta de mim (Expiro, inspiro, mas com muita calma dessa vez). Eu paro. Outra vez a voz medonha vem sussurrar em meu ouvido dizendo: -- Você consegue. Não sabe, mas já é minha faz tempo. Repito, aqui só vem parar quem já é meu...


Ou ela ou eu. Então sou EU!


Sorrio, pego uma faca, que agora vejo, a menina derrubou no chão. Ela está assustada. Eu ao contrário, já não sinto mais medo nenhum... Penso – Tenho muito o que viver, e ele tem razão (hahaha), quem está aqui é porque já era dele. Com um golpe acerto-a no coração.


(Suspiro) Agora sou eu em meu quarto, e espero... O dia da chegada nova. Aqui não há colegas de quartos e só vem mesmo quem já era dele.

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