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The End / O Fim

Atualizado: 9 de nov. de 2020

Mês passado me aconteceu uma coisa inusitada. Reparei pela primeira vez algo, que, aparentemente sempre esteve presente:


Uma loja de antiguidades, com uma variedade de objetos, daquelas que tem de tudo pra todos os gostos. E desde então, não pude deixar de passar em frente. Nem sei bem o porquê. Lhes conto...


Repare que, o estranho, é o fato da loja nunca estar aberta. Não importa a hora que eu passo. Quer dizer, há sempre uma vitrine bem posta - que como eu disse - há coisas para todos os gostos: casacos, vestidos, um chapéu - Ah o chapéu, é a minha peça. Eu estou namorando - esperando por ele - por todos os dias. Mas como eu comentei, a loja não está aberta (eu sei que tem uma luz, bem fraquinha, lá no fundo). Também não posso esquecer da bendita da placa, com os dizeres: The End/O Fim. Aquilo soa bizarro e eu sempre me pergunto, o fim de quê? Acho aquilo gozado, e sempre penso: Isso deve espantar um pouco a clientela.


Pois bem, o tempo está passando e nada da loja abrir, só a luz no fundo, que me diz que ali dentro deve haver alguém. Tento por variados horários durante o dia. Corro até o final da rua, porém, sempre que chego em frente à loja ela ainda está fechada!


Comento com uma colega, o que me intriga e me irrita:


--Queria tanto conseguir ver àquela loja no final da rua aberta, você não?


--Loja no final da rua? Da nossa rua?


--Sim. Uma loja de coisas antigas e variadas.


--Tá maluca? Lá só tem o terreno baldio onde brincam as crianças. Costumávamos brincar lá, lembra? Ou então deve ser nova e eu nem vi.


--Não pode ser, sempre esteve lá! -- Digo eu.


Parei a discussão. Na verdade, aquele papo me deixou bem incomodada! Pensando bem, eu me lembro sim, do terreno baldio, mas também me lembro bem da loja sempre ter estado lá!


Mais um dia se passa e bem à noitinha, paro mais um pouco em frente minha querida loja, onde em meio a névoa, uma senhora pequena e de rosto pálido está a observar a vitrine ao meu lado:


--Vestido bonito este, você não acha? -- Diz a senhora.


Concordo e me alivia saber que não estou louca. A loja está ali, sempre esteve! Afinal, não sou a única que a vê. Foi por isso mesmo que decido chamar minha colega, para juntas tentarmos gritar por alguém naquela lojinha.


***


Já é manhã, e é hoje que descobriremos o que há lá! E é hoje que compro o meu tão sonhado chapéu.


Atravesso a rua correndo. Sinto um mal estar, mas logo passa. E finalmente, não só a loja está aberta, mas há uma vendedora ali dentro me esperando com o meu chapéu em mãos:


--Chegou bem na hora! -- Diz a vendedora -- Está aqui o seu chapéu.


--Finalmente vocês abriram! A propósito, quais dias a loja abrirá a partir agora?


--Ah, você não percebeu... Não é sua culpa, querida. Acontece com frequência. Pois eu lhe digo, esta loja abre sempre no fim. Por isto a placa.


Ela me entrega o chapéu. E ao colocá-lo, olho do outro lado da rua. Minha amiga está chorando, próxima ao terreno baldio, que também sempre esteve aqui. Meu corpo jaz, morto, pois um mal súbito havia me acometido. Agora entendo. O único horário de funcionamento desta loja é quando chega o fim.



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