Diário do Artista no Escuro
- escrivoteca
- 14 de ago. de 2020
- 5 min de leitura
Querido Artista no Escuro,
Este será nosso diário, e começo falando, principalmente, de dois dias pelos quais passei recentemente. Dois dias para compartilhar, e por fim um terceiro e um quarto (hoje). Calmaria. Todos eles, me fizeram refletir, o quão rápido, passamos por nossos humores.
Bom, começarei do princípio. O dia bom - e aqui preciso dizer que está um dos principais motivos, pelos quais, decidi começar este diário. Acontece que sempre me esqueço das coisas que me deixaram feliz. Então, do que eu me lembro é o seguinte: Finalmente dei mais um passo, que foi considerado uma vitória importante quando não se está acostumado a expor-se: abri o site/blog da escrivoteca. Fora isso, lembro que de maneira geral, foi um dia produtivo. Mandei meu primeiro email em nome desta página e deste "quase trabalho" - leia-se quase, pois sei ser julgada, diariamente, por ter optado fazer algo como abrir um site sem ser "absolutamente ninguém".
Agora falando do email que enviei - isso é importante - foi para um artista que não está no escuro, como você e eu. Não. Ele já passou dessa fase há anos, e por isso mesmo é motivo de minha admiração. Voltando ao email, era o seguinte: Sugeri que ele lesse um texto meu, em seu canal de Youtube, mais precisamente "A República". Eu e ele temos este gosto por coisas obscuras em comum (e isso tornou tudo mais difícil). Entenda que ao fazer isso, saí totalmente da minha "zona de conforto".
Prontamente, chegou o dia seguinte, não foi o mais feliz - e agora, conto a você, deste me lembro até dos mínimos detalhes - começou assim: pegamos um companheiro novo para nossa família (o gato Dominic), visto que, uma das nossas queridas mascotes (filha, por assim dizer), deixou este mundo doido. Esse nosso novo amigo, não permitiu que ninguém dormisse (e eu já sofro de insônias), portanto o dia já estava assim, bem mal dormido. Quando finalmente havia desistido de tentar descansar, conectei-me a internet e vi algumas mensagens de voz, desse meu artista estimado. Aí já me martirizei, pois, se mandei um email, porque recebi mensagem de voz em resposta (eu e meus desconforfos)? Quando tomei coragem, ouvi mais ou menos o seguinte "Bom dia Carolina, decidi mandar audios, pois se escrevesse demoraria muito..." algumas coisas acompanharam o bom dia e depois de me avisar de que seria extremamente sincero, continuou quase assim "... Queria dizer que gostei do conto, mas..." ... Aiaiai, sempre tem que ter um "mas". Bom, vou resumir, gostou do conto, apontou de maneira quase que carinhosa (sem perder a honestidade), algum defeito ou outro - de coisas que não bateram pra ele - e me explicou que, por alguns motivos - principalmente por ser um conto que não tinha o mesmo ritmo dos que ele já havia escolhido para ler - não o leria. Ah, claro... O final ficou meio perdido para ele. Repare aqui, que ele não criticou duramente meu conto, muito menos minha escrita (do contrário, me disse que escrevo bem)... Mas ainda que eu o tenha respondido agradecendo, pois levei "numa boa a crítica", foi aí que comecei com meu martírio... E juro, o homem elogiou o meu trabalho, foi educado, sincero (de maneira que quis realmente ajudar), isso sem contar o tempo dedicado a uma pessoa que lhe era totalmente desconhecida (o cara é ocupado e trabalha pra caramba!). No final me encorajou a, talvez, enviar mais alguma coisa.
Veja bem, a maioria das pessoas não tem a oportunidade de receber uma devolutiva tão rica. Geralmente as devoluções não são claras. Costumam ser até rudes. Isso quando não nos ignoram por completo. Mas no meu caso, nada disso aconteceu. E ainda assim, ouvi aquela voz cruel - voz minha, por sinal - que me disse que nunca levei ou levarei jeito pra isso (para escrever), e que se não quisesse mais passar vergonha, como essa, era melhor que desistisse.
Pense comigo! Ninguém me disse nada demais, então, por que é que estou me martirizando tanto? Não sei dizer, de verdade. E depois disso, pense em uma pessoa que levou o dia ladeira abaixo, sem motivo algum. Sim, eu levei. E a única coisa diferente que aconteceu, fora o Dominic e sua adaptação (que, convenhamos, não tem nada demais), foram vários, e absolutos, nadas!
Aiai...
E aí, surgiu a oportunidade de falar, rapidamente, com uma amiga sobre isso, que me contou um "causo" de si, parecido com essa minha temática - leia-se nossa problemática, em comum - que me fez refletir... Por que me coloco tanto pra baixo?
Encerrando, ainda recebi, depois dessa conversa com minha amiga, mais algumas mensagens de aúdio, desse meu querido artista, reforçando que gostou do conto e que eu o enviasse, sempre que quisesse, os meus contos. E que mesmo dentro de sua vida corrida e doida, os leria. Disse para irmos nos falando, além de afirmar que sentiu firmeza em mim.
Cara... Como são as coisas, pois nem eu mesmo sinto firmeza em mim.
De novo. Por que estou me pondo pra baixo e me sentindo mal com essa história? Será que foi ego? Será que eu não posso errar? Será que ninguém pode ter uma opinião diferente da minha? Novamente, não sei... Só sei que é algo necessitando da minha atenção e do meu carinho. Preciso trabalhar nisso.
Reflexão e mais uma noite mal dormida (Dominic). Dia seguinte, mais reflexão e uma noite de sono melhor... Estou bem, aceitei melhor a crítica? Muito bem, obrigada! Crítica aceita com sucesso... Se consegui entender essa cobrança que eu tenho para comigo? Com certeza não... Mas pelo menos vou curtir essa pequena vitória, de conseguir reler meu conto e lembrar que era aquilo mesmo, o final, a batida - tudo tinha que ser confuso - e que aquele meu querido artista, tinha razão. Não só em todas as suas colocações, mas também quando me disse que o conto é bom! Agora tenho certeza, que ele não estava disfarçando o quanto odiou o meu texto - pois a minha voz cruel, também me fez imaginar isso - e que realmente era verdade, quando falou que o meu texto não combina com o formato de leitura que ele gosta de manter em seu canal no Youtube.
Hoje acordei bem melhor. Finalmente fiz a propaganda do "bendito do conto" - como havia me programado para fazer desde quarta-feira e acabei nem fazendo - e estou feliz com o resultado... Fui da chateação ao lisonjeio... Poxa vida! Uma pessoa que admiro e nem me conhece, ter sentido mais firmeza em mim, do que eu mesma senti? Ter tirado um tempo precioso, não só para ler o meu conto, mas também analisar, me responder e ainda por cima me incentivar a querer melhorar e a escrever muito mais (e quem sabe fazermos outro tipo de parceria com algum outro escrito meu), foi no mínimo uma grande coisa.
Espero mesmo, em algum dia desses, conseguir me considerar de verdade. Ter carinho comigo e com o meu trabalho. Ser capaz de me chamar de artista (sair do anonimato em que minha mente insiste em me colocar) e principalmente, encher a boca em me denominar escritora, mesmo com todas as minhas falhas.
P.S. Esse diário, foi a maneira que encontrei, em transformar meus, abstratos, sentimentos, em algo mais visível e palpável - assim como, certas vezes, faço com os desenhos - de maneira que, posso visualizá-los e percebê-los melhor. Espero que te ajude também, meu querido artista no escuro. e até o próximo conto do nosso diário.
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